Sítio

A instalação escultórica Sítio parte da pesquisa realizada na cidade de Bauru no mês de fevereiro de 2024. A exploração se baseou em derivas realizadas no espaço urbano da cidade, a partir da região central, onde estive hospedado.

Nos deslocamentos diários, pude encontrar e registrar, com imagens fotográficas, muito do que, em minha interpretação do tema proposto, se aproximava da ideia de fósseis urbanos. Percorri ruas, viadutos, praças, parques e linhas férreas para encontrar exemplares que pudessem ser significativos para a pesquisa. Encontrei prédios e casas abandonados, antigos hotéis vedados ou demolidos, prédios em construção e canteiros de obras interrompidos, estações e linhas férreas abandonadas, terrenos baldios com vestígios das antigas construções ali erigidas e árvores urbanas mortas ainda nos canteiros onde foram plantadas.

A partir dessa investigação, o projeto foi encaminhado com três possibilidades para se consolidar, dos fósseis de construções, dos fósseis de terrenos baldios e dos fósseis de espécies arbóreas.

A opção foi por trabalhar com os fósseis de árvores urbanas. São exemplares vegetais de grande porte que tiveram vida nas ruas de Bauru, cumprindo funções importantes para a qualidade de vida dos moradores e de saúde pública da cidade: sombreamento, consumo de gás carbônico, produção de ar puro, umidificação do ambiente, redução da temperatura e embelezamento.

O processo de trabalho consistiu em, depois do mapeamento dos fósseis arbóreos existentes na cidade, estabelecer uma negociação com as esferas pública e privada para solicitação de retirada do tronco de uma das árvores mortas e o plantio de uma nova espécie no mesmo local, com o consentimento dos moradores da residência mais próxima.

O exemplar removido da calçada foi deslocado para o pátio do Museu Histórico Municipal de Bauru e associado ao anel em cantaria já alocado no local. O elemento esculpido em pedra é também um fóssil da cidade de Bauru, por ser parte remanescente de uma antiga fonte d’água removida de seu local de origem.

A obra se completa na associação das duas partes, o anel de pedra, que restou da fonte d’água, e o tronco da árvore seca, ambos deslocados dos espaços urbanos primitivos e amalgamados por uma superfície de areia tingida na cor vermelha.

A areia empregada é atóxica, proveniente de mineração certificada, e tingida com pigmento orgânico. Desse modo, não traz prejuízo no contato com qualquer ser vivo,

Fernando Limberger

fotos: Marilia Vasconcellos