Coleções/Cartografias: Bauru-Fóssil

O projeto de residência do artista Renato Almeida foi realizado como uma nova versão do trabalho autoral chamado “Coleções/Cartografias” (2014-in progress). A série chamada Coleções/Cartografias, iniciada em 2014 (e em vigor até hoje), é elaborada com base em narrativas cartográficas que consistem em coletar, organizar e apresentar objetos encontrados durante caminhadas ativas pelos espaços urbanos, trazendo informações gráficas, como desenhos, fotografias, mapas, anotações, textos, relacionando-os poeticamente partindo de sua constituição formal, simbólica ou por conta de sua funcionalidade. Esses artefatos contam a história de trajetos percorridos por um corpo que vivencia o espaço urbano da cidade, onde ora deixa rastros, ora coleta materiais, considerando a relação do indivíduo com o espaço que habita, o sentimento de pertencimento e as possíveis formas de existência no lócus urbano.

Trata-se de um trabalho que se renova com o passar dos anos ou com o território que o artista escolhe para vivenciar, quando novos registros e objetos tomam o lugar dos anteriores, de acordo com o processo de experiência poética vigente.

Especificamente nesta exposição, o trabalho recebe o título de Coleções/Cartografias: Bauru-Fóssil e foi realizado durante o período de pesquisas em Bauru, onde o artista esteve caminhando e vivenciando a região central da cidade, onde também se hospedou, ou, mais precisamente frequentou, além do centro, a região do Bairro da Bela Vista, um dos mais antigos da cidade. A região percorrida e as experiências vividas, o fizeram compreender que realmente uma nova versão do trabalho Coleções/Cartografias se faria interessante.

O centro da cidade de Bauru, diferente do da cidade de São Paulo, onde o artista vive hoje, traz consigo uma estética de desgaste nas fachadas dos comércios e habitações, lugares de ruínas ou de abandono arquitetônico que lembraram ao artista muitos dos aspectos urbanos anacrônicos dos bairros periféricos da Zona Leste de São Paulo, onde nasceu e viveu. Diferente, por exemplo, da região central da São Paulo, onde vive hoje, que tem como uma de suas principais características as mudanças constantes, o centro de Bauru vive essa anacronia da estética arquitetônica: é como se o tempo e os rastros de memória estampassem nas paredes da cidade a história daquela sociedade, por meio de marcas, camadas de sobreposição de informação, sujeira, remendos de concreto ou de pintura, ruínas de moradias e estabelecimentos, etc.

Renato Almeida

fotos: Marilia Vasconcellos