O projeto Fósseis urbanos: das condições para a sobrevivência da memória, contemplado pelo Edital ProAC 12/2023 (Artes visuais - Produção de exposição inédita), da Secretaria da Cultura, Indústria e Economia Criativas do Governo do Estado de São Paulo, parte do conceito de brownfield para abordar, por meio de criações artísticas contemporâneas e inéditas, as memórias sociais e urbanas da cidade de Bauru.
Oriundo dos campos da arquitetura e da ecologia, o termo brownfield é empregado desde 1992 para designar "instalações industriais e comerciais abandonadas, ociosas ou subutilizadas cuja expansão ou revitalização é complicada por contaminações ambientais reais ou percebidas".
Neste sentido, temos como objetivo uma abordagem artística de espaços estagnados do território bauruense - sejam estruturas urbanas ou naturais - sob a ótica de terrenos arrasados que, embora a princípio não estejam ecologicamente comprometidos, hoje compõem áreas ressecadas, fossilizadas, encravadas na área urbana da cidade e carregadas de memórias. Carcaças de um passado recente que permanecem presentes na paisagem local e que perdem, progressivamente, seu contato com a experiência social dos moradores da cidade.
Lembrando as reflexões de Ecléa Bosi, quando afirma que "[...] lembrar que lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado", oito artistas contemporâneos em afirmação de carreira, em diversas linguagens - Edmar Almeida (Franco da Rocha), Fernando Limberger (São Paulo), Jp Accacio (São Paulo), Marcelo Bressanin (Bauru), Marília Vasconcellos (Uchoa), João Risu 41 (Bauru), Mari Monteiro (Bauru), Renato Almeida (São Paulo) - foram convidados a explorar os terrenos mortos, secos, em Bauru, por meio de derivas, entrevistas e outras formas de contato com o local, de forma a desenvolverem obras inéditas.
Caminhando, observando e escrutinando a cidade, foram chamados, como olhares criativos, com perspectivas locais e visitantes, a escavar os territórios locais para a partir deles, por meios poéticos, provocarem novas observações da paisagem e de suas memórias, considerando, com Francesco Careri, que "o caminhar produz lugares", ou ainda que o caminhar é "[...] uma ação que, simultaneamente, é ato perceptivo e ato criativo, que ao mesmo tempo é leitura e escrita do território".
Assim, o projeto carrega prioritariamente, entre seus potenciais, a possibilidade de sensibilizar a população, a comunidade artística e as instituições públicas de cultura de Bauru para uma reflexão sobre a experiência urbana local, em seus diversos aspectos, por meio uma exposição inédita apresentada no Museu Histórico Municipal de Bauru e de oficinas de formação de público.